terça-feira, 18 de outubro de 2011

nova proposta de um modelo teórico para explicar as relações entre bettas amarelos, laranjas, rosados, abacaxis e chocolates


Temos, atualmente, a seguinte divisão de tipos para os amarelos:
  • Amarelos tradicionais (yellows)

    Considera-se a existência de dois subconjuntos:

    • Tipo 1 - Amarelo claro
    • Tipo 2 - Amarelo intensamente colorido e
  • Laranjas (oranges)
Os amarelos são frutos do resultado de um conjunto de genes, recessivos (em sua ação conjunta) para o tipo selvagem (que somente apresenta o traço vermelho), conjunto esse chamado nr1, enquanto que os laranjas possuem um outro conjunto de genes, também, recessivos (em sua ação conjunta), chamado de nr2.
Aqui o traço vermelho é determinado pelo gene NR (que é dominante, representado com letras maiúsculas).
NR vem do termo "não vermelho" ("non red", do inglês).
Até o presente momento, os conjuntos de genes nr1 e nr2 são tratados como coisas diferentes entre si, porém, começo a desconfiar - e essa foi uma das premissas para a confecção de um novo modelo teórico - que esses conjuntos (nr1 e nr2) são subconjuntos de um mesmo conjunto de genes (claro que, bem maior) que podem (e parecem) apontar para outros tipos de variações no fenótipo do betta, ligados ao pigmento vermelho.
Isso, para mim, ficou patente quando começaram a falar no "gene" (leia-se aqui, também, um conjunto de genes) nr3, que forneceria o fenótipo rosado, que nada tem a ver com os fenótipos amarelos e laranja, porém, ainda, ligados ao pigmento vermelho.
A dificuldade em se trabalhar com os amarelos tipo 1 e tipo 2 já começa com a subjetividade em se enquadrar um determinado betta amarelo: ele é claro ou intenso? E mais: ele é intenso ou ele é orange (laranja)?
O que para um observador é intenso, para outro pode ser, não necessariamente claro, porém, não tão "intenso" como o outro imagina. Qual a linha divisória que define se um betta vem a ser um tipo ou o outro?
Podemos, até, por uma certa vivência com os amarelos, dizer que um amarelo claro seja aquele que apresenta a presença do camboja - que produz a total ausência de pigmento preto com as nadadeiras bem transparentes (lembrando uma sombra de um leve amarelado claro nelas).
Já os amarelos intensos apresentariam um tom mais fechado, mais escuro - devido à influência dos melanóforos (pigmentos pretos) -, com nadadeiras amareladas mais encorpadas, menos translúcidas.
Poder-se-ia considerar isso uma separação nítida entre os dois tipos? Acho que não, pois existem diversos tipos intermediários, já que se cruzam amarelos sem se observar se são claros ou intensos - e, muitas das vezes, por não se saber mesmo quem é quem.
Pela presença desses diversos tipos intermediários de amarelos, posso arriscar dizer que esse traço se comporta como um traço co-dominante.
Para explicar o que seja uma co-dominância, pense em um gene como "café", e o outro como o "leite".
Ao "misturar" os dois tipos - no caso, o café e o leite -, no fenótipo acontecerá uma cor intermediária - que não será nem café, nem leite -, que sabemos ser a "café com leite".
E mais: dependendo das proporções de café e do leite nessa mistura, teremos as diversas nuances da cor "café com leite" (mais escuro ou mais claro).
Logo, devido à própria falta de uma definição concisa entre o que seja um tipo ou o outro - amarelo claro ou amarelo intenso -, temos hoje, em sua total maioria, tipos intermediários de amarelos, o que dificulta, ainda mais, um enquadramento "preciso" de um betta amarelo em um determinado tipo.
O mesmo se verifica entre os oranges e os amarelos intensos, pois há "ORANGES" e oranges.
Em outras palavras: há laranjas e laranjinhas, pois a mesma falta de critério nos acasalamentos se verifica entre os tipos.
No entanto, me parece que o orange seja recessivo para os traços vermelhos e amarelos, porém, pode sofrer a influência dos mesmos quando surge.
Ainda mais para complicar a avaliação dos amarelos, existem os pine apples (abacaxis) e os chocolates (bicolores que apresentam o corpo marrom - às vezes, café com leite - e as nadadeiras amarelas escuras e/ou esverdeadas).
Os pine apples apresentam no corpo uma cor de abacaxi (daí a designação) - tipo verde acinzentado, ou mesmo uma mistura amarela esverdeada -, quase sempre com uma espécie de rede preta ou mesmo verde escura sobre o corpo.
Essa "malha preta", na verdade, é aquela mesma que aparece nos maus vermelhos - da mesma forma que a presença de iridescências verdes ou azuladas no corpo - , e é resultado de um efeito visual devido aos debruados nas escamas - um fino contorno preto em cada uma delas.
Devido a isso, os pine apples são considerados um vermelho que sofreu uma modificação para o amarelo - qual delas (nr1 ou nr2) que atua, até hoje, para mim, não se apresenta clara nos textos sobre o assunto - , ou seja, onde deveria haver a presença do eritróforo (pigmento vermelho), há a presença do pigmento amarelo(xantóforo)1.
Mas, além dos pine apples, qualquer amarelo - bem como, os alaranjados e os rosados - não deveria, também, ser considerado uma variação do vermelho?
Claro que sim, e são.
Realmente é dispensado um igual tratamento a todos aqueles fenótipos que sofrem a ação de quaisquer subconjuntos de genes que façam parte daquele conjunto maior de genes que determinam a cor vermelha.
Vamos mergulhar um pouco mais nessa premissa.
No início deste texto comentei sobre os "genes" nr1 e nr2, e, mais tarde, o nr3 (essas nomenclaturas não são minhas, porém, pelo pouco que se tem acesso sobre este assunto, são aceitas, até o momento, não sei se por todos, mas pela maioria daqueles que mexem ou tentam se aprofundar nesse tema).
No entanto, tentei avançar um pouco mais, dando uma outra abordagem sobre esses "genes" nr1nr2nr3 - todos aqueles que mexem com esse assunto, realmente consideram esses "genes", cada um deles, como um conjunto de genes, e não como um único gene somente.
Considerei que todos eles (nr1nr2nr3 etc, etc - , pois, pode haver teoricamente outros "nr"), fazem parte de um conjunto maior de genes, onde cada combinação possível de ser feita dentre esse conjunto fechado pode determinar uma variação no fenótipo do betta, no que diz respeito ao traço vermelho.
Assim sendo, somente para explicar o meu pensamento sobre como poderíamos ter outros tipos de fenótipos abrangendo o tema "variações no fator vermelho", vamos supor que se tenha um conjunto de três genes que controlem o traço vermelho.
Por que três? Somente para facilitar e encurtar a explanação sobre o que pretendo mostrar.
Na verdade, esses subconjuntos podem ser de dez, trinta, enfim, qualquer quantidade de genes.
Essa é uma incógnita que, somente com o levantamento do genoma completo do betta, é que se poderá determinar, ao se começar a estudar o quê, e qual a quantidade de genes que atuará para cada fenótipo conhecido atualmente (amarelos claros, amarelos intensos, abacaxis, alaranjados, chocolates e rosados) e, para os futuros fenótipos - atualmente inexistentes - , conseguidos através de modificações por meio de manipulação genética, com a ativação e/ou desativação dos genes dentro desse atualmente, conjunto hipotético total - por mim, proposto - porém, se existir, estará completamente mapeado quando do levantamento do genoma completo do betta.
Portanto, vamos pensar, para efeito deste ensaio, em três genes somente, para simplificar:
x
y
z
<-
genes responsáveis pela presença do traço vermelho/amarelo
0
0
0
=
betta não vermelho
0
0
1
=
betta amarelo claro (nr1)
0
1
0
=
betta amarelo intenso (nr1)
0
1
1
=
betta laranja (nr2)
1
0
0
=
betta rosado (nr3)
1
0
1
=
betta abacaxi
1
1
0
=
betta chocolate - bicolor marrom ou café com leite e amarelo
1
1
1
=
betta inexistente (nr4?)
Nesse quadro anterior, o "zero" significa que o gene não foi ativado e o "um", que o mesmo está ativado.
Cabe aqui informar que as seqüências sugeridas de "zeros" e "uns" na tabela anterior, foram sugeridas sem um critério estabelecido, somente com o intuito de se montar um raciocínio lógico.
Deve-se ter em mente que os demais traços que podem afetar o fenótipo do betta (camboja, presença de iridescência, espalhamento de cor, espalhamento de iridescência, blond, variegated fins, mármore etc), continuarão atuando em cada uma das possíveis combinações de genes para o traço vermelho, e independente da presença ou não dele, compondo a aparência final do betta.
Assim sendo, continuaremos a ter vermelhos blond BF, super red, amarelos BF etc, etc.
Quando se observa o quadro anterior, começamos a achar incoerência ao se mostrar duas combinações diferentes com uma mesma nomenclatura (001 e 010, para nr1).
Portanto, podemos dizer que os amarelos comuns (os claros) e os amarelos intensos não são diferentes entre si, e sim, que seriam um mesmo tipo, porém, os amarelos intensos, não apresentando o fator camboja, e mais o fator blond (fator este que empalidece um pouco o pigmento preto presente na cor do betta), enquanto que os claros, poderiam ter o fator camboja mais ativo.
Desse modo, evoluí lançando mão do modelo tradicional, utilizando os velhos símbolos NR e nr, incluindo neste, as letras minúsculas a e b(que representariam dois subconjuntos diferentes de genes) para caracterizar um determinado fenótipo e tentar explicar a presença de amarelos em ninhadas de vermelhos (e vice-versa).
Relembrando o modelo tradicional:
  • NR NR   - vermelho homozigótico2 (VM)
  • NR nr   - vermelho heterozigótico3 (VM)
  • nr nr   - amarelo (qualquer tipo) (AM)
Novo modelo proposto:
  • NR NR   - vermelho homozigótico (VM)
  • NR nr   - vermelho heterozigótico (VM)
  • NRa NRa - pine apple (PA)
  • NR NRa  - vermelho homozigótico portador4 (VM)
  • NRb NRb - rosado (RSD)
  • NR NRb  - vermelho homozigótico portador (VM)
  • nr nr   - amarelo (AM)
  • nra nra - orange (LJ)
  • nr nra  - amarelo portador (AM)
  • nrb nrb - chocolate (XKT)
  • nr nrb  - amarelo portador (AM)
Estas combinações diferentes e adicionais de genes (a) e (b) forçam o surgimento de novos fenótipos, diferentes do vermelho, independente da presença nos alelos do betta, dos pares possíveis de genes responsáveis pela presença ou não do traço vermelho (NRNR e NRnr, para os vermelhos e nrnr, para os não vermelhos - amarelos, laranjas, rosados etc).
Assim, continuaríamos a ter, da mesma forma que no modelo antigo, como resultados de acasalamentos entre vermelhos e/ou amarelos:

NRNR x NRNR
->
NRNR

Vermelhos homozigótico

Vermelho homozigótico
NRnr x NRNR
->
NRNR e NRnr

Vermelhos (ambos os tipos)

Vermelhos homozigóticos
e heterozigóticos
NRnr x NRnr
->
NRNR e NRnr
e
nrnr

Vermelhos heterozigóticos

Vermelhos
(ambos os tipos)
 

Amarelos
NRNR
x
nrnr
->
NRnr

Vermelhos

Amarelos

Vermelhos heterozigóticos
nrnr x nrnr
->
nrnr

Amarelos

Amarelos
No entanto, nessa minha nova proposta de modelo, podemos explicar a casuística - que já se verifica nas ninhadas entre bettas vermelhos de muitos criadores - da obtenção, por exemplo, de pine apples e chocolates:
NRaNRb x NRaNRb
->
NraNRa
NRbNRb
e
NRaNRb

Vermelhos
portadores

Pine apple

Chocolate

Vermelho
portador
Deste modo, é possível se imaginar outros subconjuntos (c), (d) etc, todos eles pertencentes a esse mesmo grupo maior de genes - que poderiam apresentar novos tipos de bettas como mutações do fator vermelho.



Vitor Calil Chevitarese
vitorchevitarese@gmail.com
Aquarista hobbysta desde 1963, apaixonado pelo Betta e sua genética, com ênfase na disseminação da idéia de preservar, manter e aprimorar as linhagens existentes. Consultor do CEA - Centro de Estudos para Aquariofilia, para assuntos ligados aos Bettas splendens e membro da AQUORIO.
Fonte: betta brasil

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