domingo, 5 de janeiro de 2014

caramujo Drepanotrema

Drepanotrema
            O Drepanotrema é outro gênero de caramujo de água doce bastante comum no Brasil, embora seja pouco identificado, por ser frequentemente confundido com os caramujos planorbídeos comuns (Biomphalaria). Na realidade são animais bem próximos, os dois gêneros fazem parte da mesma família e subfamília (Planorbidae e Planorbinae), mas estão classificadas em diferentes tribos (Segmentinini para Biomphalaria, e Drepanotremini para osDrepanotrema). 
            Excluindo-se os Biomphalaria, sem dúvida são os planorbídeos brasileiros mais numerosos e importantes. São também chamados popularmente de “Ramshorn”.

Drepanotrema em um aquário plantado. Fotos cedidas por Sergio Roel.

            Assim como os Biomphalaria e Planorbis, possuem conchas planispirais achatadas, em forma de disco. Muitas espécies possuem conchas ainda mais achatadas, com bordas laterais agudas e abertura falciforme. Somente como curiosidade, a palavra Drepanotrema tem origem grega, e significa “orifício em forma de cimitarra”.
            São caramujos muito pequenos, medindo entre 3 e 8 mm. À primeira vista podem parecer filhotes de Biomphalaria. Porém, Biomphalarias filhotes não têm conchas com um aspecto tão planispiral quanto os adultos, possuindo uma concha mais globosa e inflada. Ou seja, a presença de diminutos caramujos com a concha bem achatada é uma boa dica para que sejam Drepanotremas
            Outra dica é a forma como estes caramujos carregam sua concha: eles caminham com a concha na posição horizontal, deitada, paralela à superfície por onde andam. Os Biomphalarias caminham com a concha em posição vertical.
            A coloração do seu corpo também é diferente: os Drepanotremas não têm hemoglobina na sua hemolinfa, desta forma não possuem a coloração avermelhada dos Biomphalarias. Possuem também antenas bastante pigmentadas, e grandes olhos escuros, que se destacam bastante no corpo claro. Algumas espécies têm também faixas pigmentadas no pé.


Comparação entre um Drepanotrema e um Biomphalaria juvenil, vide texto. Fotos de Walther Ishikawa.

Concha de um minúsculo Drepanotrema, medindo cerca de 1 mm. Veja a abertura falciforme da concha. Foto de Max Wagner.


            Um detalhe interessante sobre estes caramujos: dentre os Planorbídeos, é relativamente comum a presença de espécies “equivalentes” no hemisfério norte e sul, como os Planorbis (norte) e Biomphalaria (sul). Da mesma forma, os caramujos do gênero Gyraulus (restritos ao hemisfério norte) são idênticos aos Drepanotrema, apesar de pertencerem a tribos distintas.

            São hermafroditas, e seus ovos são muito parecidos com os dos Biomphalaria, também envoltos por uma massa gelatinosa. Mas são bem difíceis de serem vistos, por serem muito pequenos.

Um pequeno Drepanotrema junto a um Biomphalaria adulto. Note a diferença na sua coloração. Fotos de Walther Ishikawa.

            Diferente dos Biomphalaria, os Drepanotrema não são vetores de doenças humanas, mas algumas espécies estão relacionadas a parasitas de importância veterinária. São resistentes, suportando ambientes com algum grau de poluição. Em relação à sua presença em aquários, não são prejudiciais às plantas ou peixes, sendo mais uma opção interessante de invertebrados, podendo ser mantidos também em nanos.


Drepanotrema caminhando no vidro do aquário, sob duas iluminações diferentes. Note as antenas bem pigmentadas. Fotos de Walther Ishikawa.



Drepanotrema 
junto a Biomphalaria PseudosuccineaFoto de Walther Ishikawa.


Drepanotrema 
junto a PseudosuccineaFoto de Júlio Aragão.



Drepanotrema junto a Pseudosuccinea, nesta foto pode ser vista claramente a forma horizontal como carregam suas conchas, quando caminham. Foto de Walther Ishikawa.

Referências:
Gregoric DEG, Nuñez V, Rumi A, Roche MA. 2006. Freshwater gastropods from Del Plata Basin, Argentina. Checklist and new locality records.  Comunicaciones de la Sociedad Malacológica del Uruguay, Montevideo, 9(89): 51-60.

Paraense WL. 1975. 
Estado atual da sistemática dos Planorbídeos brasileiros. Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro 55: 105-128.

Paraense WL. 1975. Planorbidae, Lymnaeidae and Physidae of Argentina (Mollusca: Basommatophora). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 100(5): 491-493.

Scarabino F. 2004. Lista sistemática de los gastropoda dulceacuícolas vivientes de Uruguay. Comunicaciones de la Sociedad Malacológica Del Uruguay, Montevideo, 8(84-85/ 86-87): 347-356.

Simone LRL. 2006. Land and freshwater molluscs of Brazil. São Paulo, SP: FAPESP, 390 p.  

Amaral RS (Org.), Thiengo SARC (Org.), Pieri OS (Org.). Vigilância e Controle de Moluscos de Importância médica: Diretrizes técnicas. 2. ed. Brasília: Editora MS, 2008. 178 p.

PAHO-Pan American Health Organization 1968. A guide for the identification of the snail intermediate hosts of schistosomiasis in the Americas. Scientific Publication no. 168, Washington, 122 pp.
       

Agradecimentos especiais ao colega malacologista A. Ignacio Agudo-Padrón pela consultoria técnica e valiosas informações. Agradecemos também aos aquaristas Sérgio Roel (México), Max Wagner e Júlio Aragão, pela cessão das fotos para o artigo. Agradecimentos também a Thiago Petrellio pela doação de alguns animais.
 
Fonte: planeta invertebrados

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