domingo, 5 de janeiro de 2014

Neritina comum


Nome popular: Neritina comum, Neritina virgínea, Aruá-do-Mangue
Nome científico: Neritina (Vitta) virginea (Linnaeus, 1758)
Família: Neritidae
Origem: Ampla distribuição na costa atlântica das Américas, desde a Florida (EUA), através do Golfo do México, América Central, Ilhas do Caribe, até o Sul do Brasil (SC). Também na costa pacífica do Panamá.
Sociabilidade: Grupo
pH: 7.0 a 8.0
Temperatura: 24 a 28ºC
Dureza da água: Dura
Tamanho adulto: 1,9 cm
Alimentação: herbívoro - plantas em decomposição e algas, principalmente as diatomáceas.
Dimorfismo sexual: o macho possui um complexo peniano como nas Ampulárias, e a fêmea possui dois gonoporos, um para a saída dos ovos e outro para a entrada do espermatóforo.
Comportamento: Pacífico

As Neritinas são pequenos caramujos bastante coloridos, originários de mangues / estuários, mas que se adaptam bem a aquários de água doce. Possuem uma concha globosa e semi-esférica, com espira baixa, de aspecto porcelanoso e não-nacarado, com superfície lisa e polida. São excepcionais algueiros, mas têm o inconveniente de depositarem cápsulas de ovos nos vidros, rochas, etc. Duas espécies ocorrem no Brasil, Neritina zebra Neritina virginea.
A “Neritina comum” (Neritina virginea) tem uma concha com uma grande variedade de cores e padrões, coloração variando entre vermelho, amarelo-oliva, preto, branco, roxo e cinza. Possui listras axiais retas ou em zigue-zague, mosqueadas ou com aspecto de escamas imbricadas com bordas pretas. Seu opérculo é preto, eventualmente cinza ou esbranquiçado. Possui tentáculos finos e longos, que podem passar o tamanho do corpo delas em comprimento e só ficam à mostra quando se sentem seguras, normalmente em aquários, com peixes que as importunem, elas mantém os tentáculos protegidos sob a concha, mas quando em aquário específico para elas, deixam seus longos tentáculos expostos.

Na realidade, existe uma terceira espécie brasileira de Neritina, embora alguns autores a considerem sinônimo do Neritina virginea. Trata-se do Neritina meleagris (Lamarck, 1822), uma espécie menor (1,3 cm), com uma concha quase idêntica à da Neritina virginea. Mas, ao contrário desta, não e encontrada em água doce, ocorrendo em água salgada ou no máximo salobra. Detalhes anatômicos sutis permitem a distinção das duas espécies, como a cor do opérculo (geralmente preto na N. virginea, cinza a marrom acinzentado na N. meleagris) e um dente anterior no lábio interno da concha (ausente na N. virginea, e um dente largo na N. meleagris). Algumas fontes citam ainda uma quarta espécie (Neritina clenchi), mas de presença não-confirmada no território brasileiro.

Reprodução: A reprodução da Neritina virginea já foi bem documentada, é uma espécie que se reproduz em águas salobras, mas pode ser reproduzida em cativeiro com relativa facilidade. A contrário do Neritina zebra, possui o que se chama de desenvolvimento encapsulado não-planctônico, ou metamorfose intracapsular, todo o crescimento da larva se dá no interior da cápsula de ovos, havendo eclosão de um juvenil bentônico, miniatura dos pais, sem uma fase planctônica de vida livre.
            Assim como outros Neritídeos, a Neritina virginea é uma espécie dióica, que não elimina seus gametas na água, a fecundação sendo interna. O macho possui um complexo peniano como nas Ampulárias. Durante a cópula, o macho fica sobre a fêmea e posiciona-se do lado direito desta, inserindo seu pênis em baixo da borda do manto da fêmea, transferindo o espermatóforo. Após a fecundação, a fêmea deposita os minúsculos ovos agrupados no interior de uma cápsula rígida, aderidas em qualquer substrato disponível tal como madeira, conchas de moluscos, rochas, mas principalmente em folhas caídas de Rhizophora mangle. Elas são brancas assim que depositadas e vão se tornando amareladas conforme o desenvolvimento ocorre, são circulares e medem cerca de 1 mm de diâmetro. As fêmeas depositam várias cápsulas por vez, cada uma delas contendo cerca de 45 ovos. Quando em aquários, utilizam troncos, rochas, plantas de folhas mais resistentes e até mesmo o vidro para depositar suas cápsulas de ovos, muitos brincam que o aquário "está com ictio" quando essas desovas ocorrem.
            Todo o desenvolvimento das larvas ocorre no interior das cápsulas rígidas (tanto a fase de trocofore quanto veliger), onde os embriões e depois as larvas ficam imersos em um fluido (líquido albuminoso ou albúmen), isolados do meio externo. É uma adaptação à água doce, um processo semelhante à “Reprodução especializada” dos crustáceos. Após cerca de 12 dias as cápsulas se abrem, liberando "mini-caramujos" miniaturas dos pais, totalmente formados.
            Os espécimes acima de 5 mm de tamanho já são considerados adultos e a partir dos 8 meses de vida, aproximadamente 6 mm, a fêmea já começa a desovar. Na natureza o período de desova ocorre durante as secas, o que corresponde de Julho a Dezembro no Brasil, desovas em época de chuvas também ocorrem, porém, com uma frequência muito menor. Tem um período reprodutivo inverso ao do Neritina zebra.




Tamanho mínimo do aquário: 20 litros
Neritina virginea em seu ambiente natural, animais fotografados na Guiana. Fotos gentilmente cedidas pela Associação Francesa de Conquiliologia.

Outras Informações: Pesquisadores já encontraram essa espécie em rios e estuários, apesar de ser encontrada com mais frequência nestes últimos, se adapta bem à água doce quando adulta. Alimenta-se de material vegetal em decomposição com um importante papel na reciclagem de nutrientes. Possui hábitos noturnos. Por viver em locais com ampla variação nos parâmetros físicos, é uma espécie resistente. Da mesma forma, adapta-se a condições físicas variáveis nos aquários, mas sugere-se a manutenção em águas duras e alcalinas, para prevenir erosões na sua concha. A longevidade média em aquários é de cerca de um ano.
            Por ser uma espécie comum e colorida, esta espécie é bastante coletada nos estados do Norte e Nordeste do Brasil, usada como material para artesanato e bijuterias.
Existem diversas variedades de padrões das conchas, desde as mais amareladas até as vermelhas bem escuras, seguem alguns exemplos:






















Cinthia Emerich e Walther Ishikawa
Bibliografia:
  • Matthews-Cascon H, Pinheiro PRC, Matthews HR. A família Neritidae no Norte e Nordeste do Brasil (Mollusca: Gastropoda). Caatinga, 1990, 7: 44-56. 
  • Matthews-Cascon H, Martins IX. Notas sobre a reprodução de Vitta virginea (Linnaeus, 1758) no Nordeste do Brasil (Mollusca: Gastropoda: Neritidae). Arq. Ciên. Mar, Fortaleza. 1999, 32: 129-132.
  • Haynes A. 2005. An evaluation of members of the genera Clithon Montfort, 1810 and Neritina Lamarck 1816 (Gastropoda: Neritidae). Molluscan Research, 25(2): 75-84.
  • http://neritopsine.lifedesks.org/pages/787
  •  http://neritopsine.lifedesks.org/pages/781

Agradecemos aos colegas da  pela cessão das fotos para o artigo.
Fonte: planeta invertebrados

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