domingo, 5 de janeiro de 2014

Caranguejo de água doce, Caranguejo vermelho.

Dilocarcinus pagei, fêmea com ovos, fotografia de Nicolas N. Acosta.

Nome em português: Caranguejo de água doce, Caranguejo vermelho.
Nome em inglês: -
Nome científicoDilocarcinus pagei Stimpson, 1861
Origem: Centro da América do Sul
Tamanho: carapaça com largura de 6,5 cm
Temperatura: 20-28° C
pH: indiferente
Dureza: indiferente 
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil
Apresentação
Outra espécie bastante comum de caranguejo de água doce é o Dilocarcinus pagei. São bastante conhecidos por pescadores, porque são usados como isca de pesca esportiva, principalmente na região do Pantanal mato-grossense. São pequenos caranguejos aquáticos, de hábitos noturnos, com uma bela coloração avermelhada.
É a segunda isca viva mais capturada e comercializada no Pantanal, estima-se a coleta de 3.000.000 caranguejos/ano. Pela possibilidade de sobre-exploração, o estado do Mato Grosso criou uma lei de defeso para iscas vivas, na qual está incluído o D. pagei como o único representante dos caranguejos.
Etimologia: Seu nome científico tem etimologia incerta, carcinus vem do grego karkinos (caranguejo), e dilo pode ser derivado de algum nome próprio, algumas fontes sugerem ainda que se trate de um sufixo adaptado da fonetização do francês “de l´eau” (água). E pagei certamente é derivado de um nome próprio, mas de origem desconhecida.

Origem
            Possui ampla distribuição na região central da América do Sul, desde a planície da bacia do Rio Orinoco até a do Paraguai/Baixo Paraná, sendo encontrado no Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina. No Brasil, ocorre nos estados do Amapá, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Rondônia, Acre e Mato Grosso do Sul. Sua ocorrência no bacia do Alto Paraná (estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais) é mais provavelmente como espécie invasora.
Vivem em variados corpos d´água, riachos, lagos e represas, e também em terrenos que sofrem inundação periódica. Hábitos semi-aquáticos, adultos constroem tocas emersas junto às margens, contribuindo de forma significativa na erosão do solo destas regiões. Animais menores são coletados frequentemente junto às raízes de plantas flutuantes.

Aparência
Cefalotórax de altura média, arredondado e convexo. Olhos pequenos, antenas curtas, margem frontal lisa e bilobada. Grandes quelípodos, assimétricos nos machos, pernas dispostas lateralmente. Possuem uma bela coloração avermelhada.
Existem duas famílias de caranguejos de água doce no Brasil: Trichodactylidae e Pseudothelphusidae. Os primeiros podem identificados por dois detalhes: dáctilos com pêlos (ao invés de espinhos, daí seu nome), e segundo maxilópode. Dentro da família, os Dilocarcinus podem ser identificados baseados na forma do abdômen (fusão parcial dos somitos, III-VI), e a presença de numerosos dentes agudos na margem da carapaça (geralmente seis). OD. pagei pode ser diferenciado do D. septemdentatus pela presença de uma carena transversal elevada na borda anterior do terceiro segmento abdominal, em ambos sexos.
Dilocarcinus pagei, nesta foto é bem visível os vários dentes acuminados da carapaça. Foto de Max Wagner.

Dilocarcinus pagei, foto de Max Wagner.

Dilocarcinus pagei, foto de Max Wagner.
Imagem ventral de um macho, foto de Max Wagner.
Close no abdômen de uma fêmea, mostrando a fusão dos segmentos. Os segmentos ainda são individualizados, mas fundidos. Foto de Max Wagner.
Close no abdômen, mostrando a fusão dos segmentos. Foto de Nicolas N. Acosta.

Parâmetros de Água
É uma espécie robusta, bastante tolerante quanto às condições da água, mas se desenvolve melhor entre 20 e 28° C, pH e dureza indiferentes.
Comparação do aspecto do abdômen nos dois sexos, uma fêmea na primeira imagem, e um macho na segunda. Foto de Max Wagner.
Dimorfismo Sexual
Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Os machos também têm maiores dimensões, garras mais desenvolvidas e assimétricas.

Dilocarcinus pagei, fêmea com ovos. Note como o pleon não fica rebaixado, os ovos só são visíveis quando a fêmea abre o abdômen. Fotografia de Nicolas N. Acosta.

Reprodução
Vivem em águas continentais, todo seu ciclo de vida se dá em água doce. Reprodução sazonal, pico reprodutivo nos meses mais quentes e chuvosos, geralmente de novembro a março.
A cópula de dá em águas rasas, ou fora d´água, em terrenos marginais. O macho segura a fêmea com suas garras, a qual rebaixa seu pleon abdominal, os dois animais ficando ventre a ventre.
Produzem poucos ovos esféricos de grandes dimensões, medindo cerca de 2 mm. O número médio é de 300~500 ovos, podendo chegar a até 1000 ovos. Diferente de outros caranguejos, estes ovos não ficam fixos aos pleópodes abdominais, mas somente alojados em uma cavidade incubatória formada por uma depressão na face ventral da carapaça, e pelo abdômen alargado da fêmea. Desta forma, estes animais são bastante sensíveis a estresse nesta fase, abandonando os ovos em contato com alguma ameaça. Trabalhos mostram que somente o estresse da coleta e manipulação é o suficiente para fazê-las abandonar a prole.
Apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, também chamado epimórfico, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos juvenis, já com características semelhantes ao adulto. Por vários dias, os jovens são protegidos e carregados pelas fêmeas sob o abdome, caracterizando cuidado parental. Nesta fase, os filhotes se alojam na mesma cavidade onde se localizavam os ovos. Durante este período os pequenos caranguejos não realizam ecdises, abandonando a mãe somente após a primeira muda. Diferente dos lagostins com cuidado parental, estes filhotes não têm nenhuma estrutura anatômica especializada para se fixarem no corpo da mãe.
Apesar do desenvolvimento direto (geralmente associado a longos períodos de desenvolvimento embrionário), os embriões se desenvolvem rapidamente dentro do ovo, com duração de cerca de 15~20 dias. Os ovos mudam de cor, inicialmente são laranja-escuro, tornando-se depois laranja-claro, e depois amarelado-claro. Nesta fase final os caranguejos juvenis já são visíveis dentro do ovo, com seus grandes olhos escuros.
Fêmeas ovadas foram observadas emersas nas margens, e sobre plantas flutuantes, o mesmo ocorrendo com fêmeas com jovens guardados na câmara incubatória. Este comportamento garante o acesso dos jovens ao oxigênio, mas expõe as fêmeas à predação. Quando emersas colocam as pernas junto à cavidade, as cerdas e pêlos na face ventral dos pés acumulando umidade para a prole.
Dilocarcinus pagei apresenta o que se chama de Desova Parcelada. Ou seja, os ovos são liberados de forma não-sincronizada, mais de uma vez durante o período reprodutivo, em parcelas. Conforme os ovócitos amadurecem, estes são fecundados e exteriorizados. Esta fecundação pode ser realizada tanto por espermatóforos provenientes de uma primeira cópula estocados nas espermatecas, como adquiridos por uma nova cópula.
Por este motivo, as fêmeas carregam ovos em diferentes estágios de desenvolvimento, juntamente com juvenis. E os filhotes são liberados paulatinamente, à medida que amadurecem. Os filhotes são liberados durante a noite, nas margens. Nesta etapa, têm cerca de 2 mm de largura de carapaça.
Durante todo este período, as fêmeas com ovos ou filhotes não se alimentam, explicando a alta mortalidade das fêmeas após o período reprodutivo.

Dilocarcinus pagei, fotografado no Pantanal, Rio Salobrinha, Miranda, MS. Foto gentilmente cedida por  Rita Barreto.

Comportamento
Embora sejam animais aquáticos, tem hábitos anfíbios, suportando algum tempo fora d´água, principalmente se houver umidade. Fugas são bastante frequentes, o aquário deverá ser sempre mantido bem tampado. Passam mais tempo fora d´água do que outros caranguejos dulcícolas, em especial no período reprodutivo, se beneficiando de um aquaterrário.
São mais agressivos do que outras espécies, não sendo recomendada a sua manutenção com outros animais. Mesmo entre indivíduos da mesma espécie, pode haver predação de animais menores. Plantas tenras costumam ser devoradas também.
Adultos são escavadores, não são indicados para tanques com substrato fértil, ou com layout ornamental. Adultos têm hábitos noturnos, e costumam ficar entocados até anoitecer, jovens são mais ativos durante o dia.
Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.
Longevidade de cerca de 3 anos, mas na natureza a taxa de sobrevivência das fêmeas é baixa, com alta mortalidade após se reproduzirem, pelos motivos já expostos.

Dilocarcinus pagei em um aquário, foto de Nicolas N. Acosta.


Dilocarcinus pagei, fotografia de Nicolas N. Acosta.


Duas fêmeas de Dilocarcinus pagei em um aquário. Foto de Nicolas N. Acosta.

Alimentação
São onívoros, com importante componente vegetal na dieta. Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Caçam pequenos invertebrados, e podem se alimentar também de plantas com folhas tenras.

Dilocarcinus pagei, macho adulto, foto de Josivaldo dos Santos Júnior.

Uma imagem ventral do mesmo animal, foto de Josivaldo dos Santos Júnior.



Close de um Dilocarcinus pagei. Foto de Nicolas N. Acosta.



Bibliografia:

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Ficha escrita por Walther Ishikawa

Agradecimentos aos colegas aquaristas Max WagnerJosivaldo dos Santos Júnior e Nicolas N. Acosta (Argentina), e à fotógrafa Rita Barreto pela cessão das fotos para o artigo, e valiosas informações.
Fonte: planeta invertebrados 

3 comentários:

  1. Carlos boa tarde!
    Meu nome é Maykon
    Gosto de pescar e gostaria de saber quais as formas legais de criação do caranguejo para venda do mesmo para isca
    Por favor

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  2. Esse humanos podem comer esses caranguejos ?

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